o poeta

o poeta

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Desabafo de um feio


Eu era tão feio que quando nasci, o doutor me deu um tapa na cara. Mesmo assim não chorei, mas quando me viram, choraram o médico, a enfermeira e minha mãe… todo mundo chorou!
Logo após meu nascimento, o médico foi à sala de espera e disse a meu pai:
— “Bem, de início eu achei que tinha tirado o fígado da sua esposa. Fizemos o que foi possível… mas ele sobreviveu”.
Já minha mãe ficou na dúvida se ficava comigo ou com a placenta. E como era prematuro me colocaram numa incubadora… metálica e com proteção de alta tensão.
Minha mãe nunca me deu o peito, me dava as costas. E como sempre fui muito peludo sempre perguntavam a minha mãe:
— “Senhora, seu filho foi parido ou tecido?”
Logo percebi que meus pais não gostavam muito de mim, pois meus brinquedos para a banheira eram um rádio e uma torradeira elétrica.
Eu era tão feio que quando brincava de esconde-esconde ninguém me procurava. Uma vez fiquei perdido no mercado e quando perguntei ao policial onde estavam os meus pais, ele respondeu:
— “Não sei; há um montão de lugares onde podem ter se escondido”.
Meus pais tinham que amarrar um pedaço de carne no meu pescoço para que o Totó brincasse comigo.
Sim, amigos, eu sou feio, mas tão feio que uma vez fui atropelado por um carro e fiquei melhor.
Sou tão feio que um dia lancei um bumerangue e o fdp não regressou nunca mais.
Em certa ocasião, quando fui sequestrado, os sequestradores mandaram meu dedo mindinho para meus pais pedindo recompensa. Minha mãe exigiu mais provas.
E por causa da feiura, minha vida não foi fácil, tive que trabalhar desde garoto. Meu primeiro emprego foi numa veterinária e as pessoas não paravam de perguntar quanto eu custava.
Certa vez minha bela e “gostosona” vizinha foi até a janela do meu quarto e disse:
— “Vá lá em casa depois que não vai ter ninguém”. Quando cheguei lá não tinha ninguém.
O psiquiatra disse-me um dia que eu deveria estar louco. Então lhe disse que precisava escutar uma segunda opinião.
— “Ok, além de louco, você é muito feio”, ele me disse.
No carnaval passado fui a loja de fantasias e pedi que o atendente me desse a fantasia mais horrorosa que ele tivesse. Ele procurou… procurou e voltou com um elástico.
Foi por estas e outras que um certo dia tentei me suicidar pulando do terraço de um prédio de 50 andares, aí mandaram um padre para falar comigo:
— “Meu filho, as coisas não são assim, pense um pouco no que você está fazendo. O que você está fazendo?”
Quando estiquei o pescoço para ver quem estava falando comigo, ele me viu, arregalou os olhos e continuou:
— “O que você está fazendo que ainda não pulou?”
O último desejo de meu pai antes de morrer foi que me sentasse em seu colo. Ele foi condenado à cadeira elétrica…
E assim cresci, um emprego aqui, outro ali… mas sempre esbarrando na minha feiura: cinco demissões por justa causa só porque os chefes achavam que estava fazendo careta pra eles. Aí um dia pensei:
— “Será que não há algo que eu possa fazer que as pessoas achem bonito?”

Nenhum comentário:

Postar um comentário